AFINAL, O QUE É COMUM E NORMAL NA VISÃO DE PESSOAS COMUNS E NORMAIS?
“O fato de milhões de criaturas compartilharem os mesmos vícios não os transformam em virtudes; o fato delas praticarem os mesmos erros não os transformam em verdades e o fato de milhões de criaturas compartilharem a mesma forma de patologia mental (moral, social e comportamental) não torna estas criaturas mentalmente sadias”.
(Erich Fromm)
Um dos livros mais lidos e conceituados em todos os países de língua portuguesa, Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, define o que significam as palavras COMUM e NORMAL nos seguintes termos e parâmetros que serão adotados nesse breve ensaio:
Comum. Diz-se
do que se faz em conjunto, em reunião: obra comum; refeição comum. Que é
próprio de grande número de pessoas; geral, universal: interesse comum. Que é
ordinário, habitual: expressão pouco comum. Desprovido de elegância, de
distinção: maneiras comuns. De pouco valor: mercadoria comum. maior parte: o
comum dos homens. Loc. adv. Em comum, em conjunto, em sociedade.adj Relativo
a muitos ou todos. Vulgar, habitual. Feito em comunidade, em sociedade.
Insignificante. Maioria: o comum dos mortais. Vulgaridade.
Normal. De
acordo com a norma, com a regra; comum. Química. Diz-se de uma solução que
serve para dosagens e contém uma valência-grama por litro. Matemática Linha
normal, linha que passa pelo ponto de tangência e é perpendicular à tangente de
uma curva ou ao plano tangente de uma superfície. Escola normal, escola
destinada a formar professores primários. S.f. Matemática Reta perpendicular: a
normal a um ponto de um plano. Normal a uma curva em um ponto, perpendicular
tangente nesse ponto. Normal a uma superfície em um ponto, reta perpendicular
ao plano tangente nesse ponto.adj. Conforme à norma; exemplar. Escola
normal, aquela, cujos alunos se preparam para o professorado. F. Linha recta, que passa pelo
ponto de tangência e é perpendicular à tangente de uma curva ou ao plano
tangente de uma superfície.
(Colaboração de Libânia Feiticeira, licenciada pela Universidade de Viena em Línguas e Literaturas Modernas (variante de Português / Francês). Fez o Curso Geral de Teatro e o Curso Superior de Educação pela Arte no Conservatório Nacional de Lisboa. Viveu em Moçambique, na Alemanha, no Senegal, na Áustria e na Austrália. Vive atualmente na Indonésia.)
(Imagem da internet)
“O fato de milhões de criaturas compartilharem os mesmos vícios não os transformam em virtudes; o fato delas praticarem os mesmos erros não os transformam em verdades e o fato de milhões de criaturas compartilharem a mesma forma de patologia mental (moral, social e comportamental) não torna estas criaturas mentalmente sadias”.
(Erich Fromm)
Um dos livros mais lidos e conceituados em todos os países de língua portuguesa, Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, define o que significam as palavras COMUM e NORMAL nos seguintes termos e parâmetros que serão adotados nesse breve ensaio:
COMUM. [Do latim comune.]
Adjetivo de dois gêneros. 1. Pertencente a todos ou a muitos. 2. Vulgar,
trivial, ordinário. 3. Habitual, normal, usual, geral. [Superlativo absoluto
sintético: comuníssimo]. 4. Feito em sociedade ou em comunidade. Denominador
comum. Máximo divisor comum. Mínimo múltiplo comum. 5. Qualidade ou caráter de
comum. 6. A maioria. 7. Aquilo que é comum, habitual, normal.
NORMAL: [Do latim,
normale.] Adjetivo de dois gêneros. 1. Que é segundo a norma. 2. Habitual,
natural. 3. Tip. Diz-se do tipo de largura ou peso comum. 4. Diz-se do ensino
ou instrução de nível médio para a formação de professores primários, e do
curso em que se ministra essa instrução. 5. Que leciona em curso normal:
professora normal. 6. O curso normal.
Em apanhados de dicionários na
internet, quanto as mesmas palavras, tem-se os seguintes significados:
Comum. Diz-se
do que se faz em conjunto, em reunião: obra comum; refeição comum. Que é
próprio de grande número de pessoas; geral, universal: interesse comum. Que é
ordinário, habitual: expressão pouco comum. Desprovido de elegância, de
distinção: maneiras comuns. De pouco valor: mercadoria comum. maior parte: o
comum dos homens. Loc. adv. Em comum, em conjunto, em sociedade.adj Relativo
a muitos ou todos. Vulgar, habitual. Feito em comunidade, em sociedade.
Insignificante. Maioria: o comum dos mortais. Vulgaridade.
Normal. De
acordo com a norma, com a regra; comum. Química. Diz-se de uma solução que
serve para dosagens e contém uma valência-grama por litro. Matemática Linha
normal, linha que passa pelo ponto de tangência e é perpendicular à tangente de
uma curva ou ao plano tangente de uma superfície. Escola normal, escola
destinada a formar professores primários. S.f. Matemática Reta perpendicular: a
normal a um ponto de um plano. Normal a uma curva em um ponto, perpendicular
tangente nesse ponto. Normal a uma superfície em um ponto, reta perpendicular
ao plano tangente nesse ponto.adj. Conforme à norma; exemplar. Escola
normal, aquela, cujos alunos se preparam para o professorado. F. Linha recta, que passa pelo
ponto de tangência e é perpendicular à tangente de uma curva ou ao plano
tangente de uma superfície.
AFINAL,
O QUE É COMUM E NORMAL NA VISÃO DE ALGUMAS PESSOAS NÃO-TÃO-COMUNS E NÃO-TÃO-NORMAIS?
(Imagem da internet)
“Mulher que mudou de sexo,
retirou seios, mas manteve o útero está à beira de ser mãe,
recorrendo à
inseminação artificial e depois
de deixar de
tomar testosterona”
“O mundo teve,
em março de 2008, conhecimento de um caso, no mínimo, extremamente perturbante.
Thomas Beatie,
cidadão norte-americano, nasceu mulher. Mas queria ser homem. Para isso, ainda
durante a adolescência, submeteu-se a uma operação que lhe trocou o sexo. Fez
tratamentos de testosterona e retirou os seios. Mas conservou os órgãos
reprodutivos. Casou com Nancy, há cerca de dez anos, mas Nancy, a sua mulher,
não podia ter o filho biológico que queriam ter por ter sido submetida, há
vinte anos, a uma histerectomia.
Problema
impossível de ultrapassar? Não! Thomas pensa que “ter um filho biológico não é
desejo masculino ou feminino; é um desejo humano”.
Partindo desta
verdade incontestável, resolveu o caso assim: fez retroceder parte do processo
que o transformou no homem que optou por ser interrompendo o tratamento de
testosterona. Recorreu à inseminação artificial e engravidou!
Depois, com
cinco meses de gravidez, o homem que vemos na fotografia acima, aguardou o
nascimento de uma menina.
Eu serei o pai,
Nancy a mãe, e seremos uma família. Sou um transgênero legalmente homem e
legalmente casado. Para os nossos vizinhos, para a minha mulher Nancy e para
mim não parece nada fora do normal” resume Thomas Beatie.
Não parece nada
fora do normal?
Olho para a
fotografia e, não estivesse eu a par do caso, poderia pensar tratar-se de uma
fotomontagem, de um extraterrestre, de sei lá eu que mais!
Bem, este homem
tem, naturalmente, o direito de fazer com o corpo dele o que bem entender. E
tem o direito, do meu ponto de vista, de, apesar de ter nascido mulher, ter
optado por ser homem. Terá ali havido, digamos, um engano da natureza que
entendeu corrigir.
Este assunto é
da esfera privada de cada um. Não me faz nenhuma confusão.
O que me
inquieta não é, portanto, este problema das pessoas que se sentem ser um outro
que não o que o “invólucro” diz serem e a necessidade que sentem de viverem de
acordo com o que entendem ser a sua verdade.
O que me
inquieta são, pelo menos, duas outras coisas: Primeiro, e antes de mais, a
criança. A criança desta pessoa que sendo objetivamente a sua mãe, vai ter que
tratar por pai. Esta criança que ainda não nasceu e já está condenada a viver
com um estigma numa sociedade em que é suposto inserir-se.
Será que o
egoísmo atroz destas duas pessoas lhes deixou espaço para refletirem no futuro
da criança que vai nascer?
Será que é
lícito que alguém na comunidade médica se prontifique a ajudar a concretizar
semelhante coisa?
Então, e os
direitos da criança? O direito, por exemplo, ao respeito, à paz, à privacidade?
Sabemos os
desajustamentos psíquicos de que sofrem as crianças que vivem no seio de
famílias convencionais, mas desestruturadas.
Como se imagina
o reflexo que pode ter na formação de uma criança o ver-se confrontada com a
verdade da sua gestação? Quando lhe contarem que o seu primeiro berço foi a
barriga do pai que tinha sido mulher antes de ser homem, motivo pelo qual pode
acolher espermatozóides de um homem cuja identidade desconhece?
Se, sem que, até
aqui, se tivesse alguma vez chegado a semelhante imbróglio, já nos deparamos
com muito de louco na sociedade em que vivemos, como serão as sociedades
vindouras?
Definitivamente
não consigo, sequer, imaginar. Esta absoluta subversão de valores para onde nos
arrastará?
A minha outra
inquietação prende-se com o significado das palavras. Com o valor das palavras.
Este Thomas
Beatie, a mulher Nancy e os vizinhos entendem que tudo isto é normal. Mas,
então, quais são as fronteiras da normalidade? O que quer dizer normal?
A normalidade é
evidentemente um conceito subjectivo. O que é considerado normal por um
indivíduo não o será por outro. O que é considerado normal numa sociedade ou
numa cultura poderá ter valor oposto noutra e, naturalmente esses vários rostos
da dita normalidade devem ser respeitados por assentarem naquilo que é a
herança cultural que nos diversifica e, por isso, nos enriquece.
Bem, devem ser
respeitados se não forem alienatórios dos direitos individuais ou coletivos
como é, por exemplo, o caso da excisão do clítoris culturalmente aceita em
algumas sociedades.
Não são esses
vários rostos da normalidade o motivo da minha reflexão.
Quando quero
ajuizar uma situação sirvo-me de parâmetros que me guiam. Para que os tribunais
possam ajuizar da conduta de alguém que tem de julgar servem-se naturalmente de
parâmetros. E que parâmetros são esses? Tratando-se de comportamentos, são as
tais margens a que me referi num dos comentários anteriores. São as regras, os
conceitos estipulados, por maioritariamente aceites como certos, pela sociedade
em que nos inserimos.
No caso
concreto que motivou este meu escrito, não percebo como pode ser analisado num
quadro de normalidade esta subversão dos valores que são efetivamente os
parâmetros por que nos guiamos para falar de pai, mãe, filhos, família.
Uma coisa é a
evolução natural das sociedades e das regras que têm que a ela se adaptar, como
é do senso comum. Outra, bem diferente, é, em defesa dos direitos individuais,
por mais estranhos ou egoístas que sejam, passarmos a aceitar comportamentos
que podem vir a ser sementes de focos de alienação coletiva e, por isso,
lesivos à sociedade.
Há tanta, tanta
coisa que não entendemos!
E se não as
entendemos, como as vamos explicar às crianças que temos de preparar para o
futuro? Em que base vai assentar a estrutura psicológica dessa nova geração?
Que herança lhes deixamos? Só pontos de interrogação?
É por estas e
por outras que se tornou absoluto dever das sociedades o viverem em estado de
alerta permanente. Para poderem dizer NÃO! quando as quiserem empurrar para o
vazio!
E
dever de cidadania recusar firmemente a alienação absoluta dos valores éticos
em que deve ser alicerçada uma sociedade!”
É muito importante sabermos diferenciar o NORMAL do COMUM, pois há hoje em nossas vidas algumas coisas absurdas que de tanto se repetirem vão se tornando comuns e de comuns vão quase sendo aceitas como normais.
E vamos tendo respostas tipo:
- Ah, mas ser mal atendido em postos e hospitais é *normal!
-Também! Ela foi andar lá, todo mundo sabe que é *normal ser assaltado por ali!
- Não é de se admirar, pois é *normal as meninas com esta idade abortar, aqui nesta cidade!
O comportamento nos coloca numa posição de irmos (ou não) aceitando determinadas atitudes (ou vícios) como normais, mas é bom lembrarmos que o que é COMUM acontecer não o torna NORMAL.